Transformando el Sonido de las Ideas
5 September 2024
A Gaita-de-Foles: Uma sonoridade que não pode ser confundida
Podemos organologicamente dividir as gaitas-de-foles em três categorias consoante a morfologia do ponteiro ou palheta, a peça na qual o gaiteiro usa os dedos para emitir uma melodia: as que possuem ponteiros cónicos e que de um modo geral funcionam com palheta dupla, as de ponteiros cilíndricos que costumam possuir palheta simples e as de ponteiros cilíndricos duplos com palheta dupla e sem qualquer bordão a emitir a nota pedal. Esta classificação refere-se unicamente ao modo como os ponteiros são torneados no seu interior e não ao seu aspecto externo, pois pode acontecer que ponteiros cilíndricos com conicidade interna e vice-versa. O instrumento possui aindaum saco flexível de ar cuja função é aliviar o esforço de expiração do músico no qual são acoplados um tubo insuflador, um melódico e um de bordão. Este odre ou fole é colocado debaixo do braço e apertado para regular a pressão de ar. Certas gaitas a alimentação de ar é apenas accionada pelo membro superior do intérprete. O princípio consiste em manter o ar conservado numa bolsa e libertá-lo num fluxo constante e uniforme, pressionando-a levemente com o braço quando o músico precisa de ganhar fôlego.
A origem deste aerofone é incerta. Muitos investigadores acreditam que o seu surgimento ocorreu algures nos territórios junto ao mar Mediterrâneo ou na Ásia. Variantes deste instrumento podem ser encontradas em vários pontos do planeta como, por exemplo, na Ucrânia, na Roménia, na Polónia, na Hungria, na Bulgária, na Sérvia, na Croácia, na Macedónia, na Suécia, na Estónia, na Rússia, na Alemanha, na França, em Portugal, na Espanha, na Itália, em países do Norte de África, no Afeganistão ou na Índia. Representações de gaitas-de-foles folclóricas antigas podem também ser encontradas nas artes plásticas.
Na Roma Antiga existem registos escritos pelo historiador romano Gaius Suetonius Tranquillus e do filósofo Grego sob a ocupação Romana Dião Crisóstomo, que viveram ambos nos séculos I e II sobre o que parece ser este instrumento. O primeiro refere que o imperador Nero no final do seu reinado jurou honrar os deuses com um grande festival de música, em que ele interpretaria com, entre outros, um utricularius se eles o resgatassem das mãos dos conspiradores. Utricularia é um saco de couro para água ou vinho, aqui entendido como um saco cheio de ar inferindo-se uma tíbia utricularis. O segundo que um soberano da época, provavelmente Nero, podia tocar com a boca uma tíbia, ou seja, uma gaita de junco romana semelhante a instrumentos gregos e etruscos, bem como colocando uma bexiga ou um fole sob a axila.
A gaita-de-foles, um instrumento que fornece vento para um tubo de junco através de um reservatório de ar, o saco ou fole, parece ter existido na república de Roma, datado por volta da segunda metade do século I d.C. o poeta Marcial (40-c.104) chamou este novo instrumento de askaulos, junção do grego aulos (duplo instrumento de sopro com palheta) com askos que significa «bolsa».
Pode-se conjecturar que, ao invés de serem vistos como uma classe independente, estes artefactos eram entendidos como variantes de instrumentos soprados pela boca que usavam uma bolsa como auxiliar de sopro alternativo. Só na era medieval quando os bordões foram adicionados, as gaitas-de-foles foram vistas como uma classe distinta.
Durante o período medieval, registos diversos aparecem em obras escultóricas, gravuras, manuscritos, iluminuras e pinturas. Diferentes modelos de gaitas-de-foles estiveram durante séculos intimamente ligados à fé. Havia uma ligação desta com as épocas festivas, o culto, as peregrinações ou procissões nas comunidades agrárias e pastoris. A audição destes aerofones agradava à população mais humilde e estes eram elaborados com peles de animais e madeira. Contudo, o enquadramento histórico da Idade Média não facilita a determinação concreta dos tempos e lugares do aparecimento e das transformações cronológicas e territoriais desta tipologia de artefacto musical.
Uma ilustração nas «Cantigas de Santa Maria» de Afonso X, conjunto de canções líricas com notação musical, escritas em galaico-português, mostra com clareza dois gaiteiros, com tubos insufladores, foles e tubo com orifícios ou palhetas visíveis. Uma ilustração semelhante também pode ser encontrada num manuscrito do Norte da França, datado da mesma época.
Em «The Canterbury Tales», narrativas escritas nas duas últimas décadas do século XIV, Geoffrey Chaucer, seu autor, refere Robin the Miller um competente tocador de gaita na sua terra. Outras alusões à gaita e aos seus ministreis ocorrem neste período.
A invenção da imprensa em meados do século XV levou a um aumento das descrições escritas da cultura musical e a música que antes era transmitida por tradição oral começou a ser escrita.
Em 1581, John Derricke publicou «The Image of Irelande», com ilustrações que retratam claramente um gaiteiro e, em «My Ladye Nevells Booke», um manuscrito contendo peças para teclas do compositor Inglês William Byrd, inclui uma peça musical chamada «The bagpipe and the drone», escrita para cravo.Muitas comunidades rurais tinham festividades nas quais as gaitas-de-foles eram populares sendo vinculadas pelo cristianismo a uma imagem pagã em diferentes períodos da história e em diferentes regiões. John Knox, um ministro da igreja, teólogo reformista e escritor Escocês, fundador da Igreja Presbiteriana da Escócia, considerava que tocar gaita-de-foles era um pecado no seu país no século XVI.
A primeira referência provável à gaita-de-foles irlandesa data de 1544, atribuindo seu uso às tropas irlandesas no cerco de Boulogne por Henrique VIII.
A primeira referência clara ao uso da gaita-de-foles escocesa é de uma história francesa que menciona o seu uso na Batalha de Pinkie em 1547. George Buchanan afirma que esta havia substituído a trombeta no campo de batalha.
Este é o período da ceòl mór (a grande música) para a gaita-de-foles, com sugestões marciais, melodias de combate, marchas, encontros, saudações e lamentos. As Terras Altas do início do século XVII viram o desenvolvimento de famílias de gaiteiros incluindo os MacCrimmonds, os MacArthurs, os MacGregors e os Mackays de Gairloch.
Como instrumento rústico, foi imortalizado nas pinturas de Pieter Breughel (que viveu no século XVI) e alguns artistas seus contemporâneos como Abraham Bloemaert e posteriores como Jan Steen ou David Teniers no século seguinte.
A partir da Renascença e principalmente a partir do período Barroco, desenvolveram-se modelos de gaita-de-foles mais refinados, com fole mecânico, inúmeros tons e reguladores, tendo a capacidade e eficácia de soar mais de uma oitava numa escala cromática. Chamavam-se musettes, que apesar do nome, proliferaram não só na França como na Alemanha. Esses modelos chegaram posteriormente à Inglaterra e finalmente à Irlanda, sendo adaptados à estética local.
Devido a uma forte cultura de transmissão oral, a primeira música escrita para a gaita-de-foles pode não ter aparecido até ao século XVIII. Um documento da década de 1730 conhecido como o «manuscrito de William Dixon» é o mais antigo exemplo impresso conhecido de música para gaita. Em 1760, o primeiro estudo sério da gaita-de-foles escocesa e da sua música foi tentado na «Compleat Theory» de Joseph MacDonald.
No século XVII e sobretudo no século XVIII, a gaita-de-foles passou de instrumento popular para um instrumento preferido da nobreza francesa e na corte de Luís XIV e Luís XV (na forma de musette ou musette de cour). A musette, única no seu tempo com o seu som delicado, foi ricamente decorada com veludo ou brocado e elementos estruturais feitos de ébano e marfim.
Paralelamente, as gaitas-de-foles começaram a sofrer algum declínio, especialmente as de ar quente. O gosto musical começava a transformar-se e novos instrumentos de sopro passam a competir com as gaitas na preferência das pessoas. Pouco a pouco as gaitas-de-foles regressam às origens rurais que preservavam as suas tradições.
Uma das excepções é a gaita das Terras Altas da Escócia, um instrumento conotado com a guerra e mantido entre os batalhões reais. O gaiteiro das Terras Altas ocupava uma posição alta e honrada dentro do sistema de Clãs. Se tocasse bem, nada mais lhe seria pedido.
Ao longo do século XX este aerofone foi usado pela primeira vez no Jazz por Rufus Harley. No Rock, bandas como Eric Burdon and The Animals, The Jeff Beck Group with Rod Stewart, Van Morrison, Kate Bush, Paul McCartney, Phil Collins, U2, Richard Thompson, Mike Oldfield ou The Pogues também a integraram em temas. Na música erudita encontramos uma Sinfonia in ré maior com gaita-de-foles e sanfona intitulada «O Casamento dos Camponeses» de Leopold Mozart, o pai de Mozart, e obras de Michel Corrette, de Esprit-Philippe Chedeville, de Peter Maxwell Davies ou de Shaun Davey, entre outros.O uso do instrumento já não é tão popular, embora alguns países ainda preservem a sua tradição.
Podcast
Si deseas contribuir con una donación voluntaria para mantener la calidad de nuestra programación, puedes hacerlo a través del siguiente enlace:
Haz tu Donación VoluntariaCafé de Sintonía
Cabina Creativa
Comparte esta pagina
El uso de este sitio web implica la aceptación de la política de tratamiento de datos de Metropolica Radio - Metropolica Broadcast Network - MBC Network. © Todos los derechos reservados D.R.A Puede adherir nuestro player a su sitio WEB. Escribanos y le enviamos el codigo html. Esta pagina es desarrollada y administrada por © Creativos Nativos
Metropolica Radio - Metropolica Broadcast Network - MBC Network - Para reclamaciones o fallas tecnicas, favor citar: Versión de Actualizacion - 11-31 | 25/03/2024
© 2023 Policaster Media Group. Villavicencio - Lima - Bogotá - Panama City - Pernambuco. Operado por Radio La Metro